A cadeira vazia

À casa, outrora, erguida em risos
altos risos altos
vozes elevadas em discordâncias
paredes pintadas de causos de infâncias
assoalho plano pleno de estorias de pescador...
...resta a cabeceira da mesa deserta
num árido clima de despedida

Aos olhos, unidos ungidos em lágrimas,
lentes escuras, num afã de esconder-se do sol intenso da saudade
oásis, oásis perene de rios de desalento

Ao peito, seco ar cortante de lembranças
humanas em acertos, mais humanas em erros
um nó tão denso e real, que nem parece miragem,
amarrando o presente, ao passado e ao futuro

Ao passo que passa o passatempo do tempo
cruzadas, damas, futebol, musicas e um pandeiro
seguem em algum lugar do tempo
zanzando naquela sala
entre o banco e a cadeira
(a derradeira cadeira, já vazia)

Num ultimo apelo, vejo-te
numa vazia cadeira
com o ventilador rebelando teus brancos...
...

A saudade é sede
em um beduíno perdido no deserto
...

A dor é ver o lar
A mesa
A sala
A cadeira solitária
Vazia.